Cerca de metade dos satélites geoestacionários que orbitam a Terra — usados para transmitir dados confidenciais de governos, empresas, militares e cidadãos — estão vulneráveis à espionagem, segundo um estudo conduzido por pesquisadores das universidades da Califórnia e de Maryland, nos Estados Unidos.
Publicado na última segunda-feira (13), o levantamento revelou que muitos desses satélites transmitem informações sem qualquer tipo de criptografia, permitindo que os dados sejam interceptados com equipamentos relativamente simples. Entre os conteúdos capturados estão mensagens de texto, ligações, e-mails corporativos, dados de internet e até comunicações militares.
Pesquisadores montaram antena e interceptaram dados por três anos
Para testar a segurança das transmissões via satélite, os pesquisadores montaram um sistema de recepção por apenas US$ 800 (cerca de R$ 4,3 mil), composto por uma antena parabólica e um receptor, instalado no topo de um prédio em San Diego (EUA).
Durante três anos de monitoramento, eles direcionaram a antena para mais de 30 satélites geoestacionários e conseguiram captar e decodificar grandes volumes de dados, já que as transmissões não estavam protegidas por criptografia.
Entre as informações interceptadas estavam:
- Ligações e mensagens de clientes da T-Mobile;
- Dados de voo e navegação de companhias aéreas;
- Comunicações de concessionárias de energia;
- E-mails corporativos e transmissões de caixas eletrônicos;
- Conversas de policiais dos EUA e do México, incluindo localizações e informações operacionais sigilosas.
“Ficamos completamente chocados. Há partes críticas da nossa infraestrutura que dependem desse ecossistema de satélite, e achávamos que tudo era criptografado”, afirmou Aaron Schulman, professor e um dos líderes do projeto, em entrevista à Wired.
Segundo Schulman, os operadores desses sistemas parecem ter confiado na dificuldade técnica de hackear satélites como uma “camada de segurança natural” — o que, na prática, se mostrou uma falsa sensação de proteção.
Empresas corrigiram falhas
Os pesquisadores afirmaram que notificaram as empresas e agências afetadas ao longo do ano passado sobre a falta de proteção nas transmissões. Algumas, como T-Mobile e AT&T México, corrigiram as falhas e adotaram criptografia nas comunicações.
Por outro lado, diversas organizações ignoraram os alertas e continuam transmitindo dados sensíveis de forma desprotegida, deixando informações críticas expostas à interceptação por qualquer pessoa com o equipamento e conhecimento adequados.
Entre os que não implementaram medidas corretivas estariam provedores de infraestrutura essencial, o que aumenta os riscos de ataques ou espionagem direcionada.
Espionagem por agências de inteligência
O estudo também alerta para o possível uso dessa vulnerabilidade por agências de inteligência, como a NSA (EUA) e órgãos similares de China e Rússia, que poderiam explorar a falta de criptografia para monitorar comunicações de interesse estratégico.
A própria NSA já havia emitido um alerta em 2022 sobre falhas na proteção de transmissões via satélite — mas, segundo os pesquisadores, poucas medidas concretas foram tomadas desde então.
O caso reforça uma preocupação crescente na comunidade de segurança: a dependência global de infraestruturas antigas e pouco protegidas, ainda responsáveis por parte significativa das comunicações críticas do planeta.