Um novo trojan bancário identificado no Brasil está preocupando especialistas em segurança digital. Chamado de Herodotus, o malware consegue imitar comportamentos humanos para burlar sistemas biométricos e tomar o controle total de dispositivos Android, permitindo o roubo de dinheiro diretamente das contas das vítimas.
A descoberta foi feita pela empresa de cibersegurança ThreatFabric, que classifica o Herodotus como um dos malwares mais sofisticados em circulação no país. A campanha está sendo distribuída via SMiShing — golpes por SMS com links maliciosos — que se disfarçam de mensagens legítimas de bancos e empresas de pagamento.
Um malware que pensa (e age) como um humano
O diferencial do Herodotus é a capacidade de simular o comportamento humano durante o uso do celular.
Ele consegue reproduzir pausas, hesitações e até erros comuns na digitação — como apagar e reescrever uma senha.
Esses pequenos detalhes são o suficiente para enganar sistemas de detecção automatizados e barreiras biométricas, que normalmente bloqueiam atividades suspeitas.
Além disso, o Herodotus pertence à categoria Device-Takeover, ou seja, tem poder para assumir completamente o controle do dispositivo infectado. Isso permite que os criminosos façam transações financeiras, abram aplicativos e executem ações remotamente, como se fossem o próprio dono do aparelho.
O cibercrime como serviço
O Herodotus não está limitado ao Brasil. Ele também foi identificado na Itália e está sendo oferecido em fóruns clandestinos como um Malware-as-a-Service (MaaS) — um modelo de “assinatura de crime digital”, em que hackers alugam o software pronto para aplicar golpes.
Segundo a ThreatFabric, o malware é vendido por um agente conhecido como “K1RO” e oferece funcionalidades completas, como:
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Cliques automáticos em pontos específicos da tela;
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Execução de comandos globais (Voltar, Home, Recentes);
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Inserção automática de texto e swipes;
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Controle remoto total do aparelho.
A análise técnica mostra que o Herodotus compartilha partes de código com outro malware, o Brokewell, descoberto em 2024 — o que indica uma evolução modular e altamente personalizada.
Como o trojan se instala no dispositivo
A infecção começa com mensagens SMS falsas, que usam nomes de empresas conhecidas para parecerem legítimas.
No Brasil, o golpe se apresenta como “Módulo de Segurança Stone”, enquanto na Itália, aparece como “Banca Sicura”.
Ao clicar no link, o usuário baixa um dropper, um aplicativo disfarçado que instala o vírus principal.
Esse dropper consegue driblar as proteções do Android 13 e superiores, explorando brechas no Serviço de Acessibilidade.
Durante a instalação, uma tela falsa de “processamento” é exibida, enquanto o malware ativa permissões críticas e se torna invisível ao usuário.
O teatro das telas falsas
Com o acesso liberado, o Herodotus escaneia todos os aplicativos do dispositivo e envia a lista para o servidor C2 (Command and Control).
A partir daí, o servidor retorna páginas falsas que imitam os apps bancários instalados no celular.
Quando o usuário abre seu aplicativo real do banco, o Herodotus sobrepõe uma tela falsa, capturando as credenciais digitadas.
Além disso, o trojan intercepta SMS com códigos de autenticação em dois fatores (2FA), tornando a proteção via SMS praticamente inútil.
Por que o nome “Herodotus”?
O nome é uma referência a Heródoto, o historiador grego conhecido como “pai da história”.
Assim como o historiador, o malware “escreve” sua própria narrativa, falsificando o que o usuário vê e transformando cada ação em uma ilusão cuidadosamente construída.
Como se proteger
Apesar da sofisticação do Herodotus, é possível evitar a infecção com boas práticas de segurança digital:
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Baixe aplicativos apenas da Google Play Store. Nunca instale arquivos APK enviados por mensagem ou baixados de sites externos.
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Desconfie de SMS com links. Nenhum banco envia mensagens pedindo instalação de apps ou módulos de segurança.
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Não ative o Serviço de Acessibilidade para aplicativos desconhecidos. Essa permissão concede controle total ao sistema.
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Evite autenticação por SMS. Prefira aplicativos autenticadores como Google Authenticator, Authy ou Microsoft Authenticator.
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Use um gerenciador de senhas para criar combinações fortes e únicas.
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Mantenha um antivírus ativo e atualizado no dispositivo.
O caso do Herodotus mostra como os golpes digitais no Brasil estão evoluindo rapidamente, explorando a confiança e o comportamento humano como principal vetor de ataque. A melhor defesa, no fim das contas, continua sendo a consciência digital e a prudência com links e aplicativos suspeitos.