Ciberataques a aeroportos na Europa expõem vulnerabilidade global

O ataque que paralisou aeroportos europeus no último fim de semana acendeu um alerta no setor de cibersegurança brasileiro. O caso mostrou como infraestruturas críticas — como o transporte aéreo — ainda estão altamente expostas a ataques de ransomware, capazes de derrubar sistemas essenciais e causar prejuízos em escala mundial.

De acordo com a ZenoX, empresa especializada em segurança digital, 2025 já caminha para ser o pior ano da história nesse tipo de crime, com 5.579 vítimas registradas até setembro. Apenas em fevereiro, o mundo bateu recorde com mais de mil ataques em um único mês. O impacto econômico também preocupa: projeções da Cybersecurity Ventures estimam custos anuais globais de até US$ 276 bilhões até 2031.

O Brasil, infelizmente, segue no radar dos criminosos. Dados do FortiGuard Labs revelam que o país sofreu 314,8 bilhões de tentativas de ataques apenas no primeiro semestre de 2025 — o equivalente a 84% de todas as ofensivas registradas na América Latina e no Canadá.

“Ataques miram setores de alto impacto”

Para Ana Cerqueira, CRO da ZenoX, o episódio europeu mostra que os criminosos estão mirando setores estratégicos.

“Eles estão mirando setores de alto impacto social e econômico. O setor aéreo é particularmente vulnerável porque não pode parar: atrasos comprometem a segurança de passageiros e a economia global. Esse tipo de ataque não busca apenas ganhos financeiros, mas também provocar caos e pressão sobre governos e empresas”, afirma.

Ela alerta ainda que os alvos vão além das companhias aéreas. Toda a cadeia envolvida, como serviços de solo, logística, catering e até desenvolvedores de software, está no radar dos criminosos. A ZenoX identificou inclusive anúncios em fóruns clandestinos oferecendo acessos privilegiados a sistemas de companhias aéreas — alguns chegando a US$ 100 mil.

Brasil ainda não acompanha a velocidade da digitalização

Segundo Cerqueira, a transformação digital acelerada no país aumentou a superfície de ataque, mas a maturidade em cibersegurança não acompanhou o mesmo ritmo.

“Hoje, segurança digital não é mais apenas uma questão técnica, é um pilar essencial para a continuidade dos negócios. As empresas precisam adotar estratégias proativas, que incluam monitoramento contínuo, simulações de incidentes e, principalmente, treinamento de equipes contra técnicas de engenharia social, que já usam inteligência artificial e até deepfakes para enganar profissionais”, reforça.

Especialistas defendem que a proteção de setores como transporte, energia, saúde e finanças seja tratada como prioridade de segurança nacional.

O que aconteceu na Europa

O ataque começou na noite de sexta-feira (19) e causou um apagão digital que durou quatro dias. Foram afetados os aeroportos de Heathrow (Londres), Bruxelas (Bélgica) e Berlim (Alemanha).

O alvo foi o MUSE, sistema de autoatendimento e despacho de bagagens da Collins Aerospace, empresa controlada pela norte-americana RTX. Com o sistema fora do ar, passageiros ficaram sem check-in, bagagens se acumularam e vários voos foram cancelados.

Na terça-feira (23), a National Crime Agency (NCA) do Reino Unido prendeu um homem de 40 anos em West Sussex, suspeito de envolvimento no ataque. Ele foi liberado sob fiança, e as investigações seguem em andamento.