Google leva detecção de golpes por IA ao Pixel 9 na Índia e testa alertas contra fraudes financeiras

O Google está ampliando o uso de inteligência artificial para tentar frear o avanço das fraudes digitais na Índia. A empresa anunciou novas ferramentas que atuam diretamente no dispositivo, começando pelos modelos Pixel 9, além de um piloto que envolve grandes apps financeiros para reduzir golpes que exploram compartilhamento de tela.

A Índia vive uma escalada preocupante no número de ataques digitais. À medida que mais pessoas entram no universo online e dependem do celular para praticamente tudo, o país se tornou terreno fértil para golpistas. Em 2024, mais da metade das fraudes bancárias envolveu transações digitais, com perdas bilionárias registradas pelo Banco Central. Nos cinco primeiros meses de 2025, golpes online já tinham causado prejuízos estimados em mais de US$ 700 milhões, segundo o Ministério do Interior. E esse número tende a ser ainda maior, já que muitas vítimas sequer reportam o incidente.

Dentro desse cenário, o Google decidiu reforçar sua estratégia. A empresa anunciou a expansão da detecção de golpes em tempo real, baseada no modelo Gemini Nano. A tecnologia analisa chamadas diretamente no aparelho, sem enviar áudio para servidores, buscando sinais típicos de fraudes. O recurso só funciona com números desconhecidos, avisa os participantes com um bipe e vem desativado por padrão. Foi lançado nos EUA como beta e agora chega à Índia, mas apenas no Pixel 9 e em inglês, tanto na análise quanto nos avisos.

Isso cria uma limitação considerável. O Android domina quase todo o mercado indiano de smartphones, mas os Pixels não chegam a ocupar 1% desse espaço. Além disso, a maioria dos usuários do país não utiliza o inglês como idioma principal. O Google afirmou que pretende levar o recurso para outros smartphones Android, porém não deu prazo.

A empresa também revelou um piloto envolvendo os apps Navi, Paytm e Google Pay. A ideia é reduzir golpes nos quais criminosos convencem a vítima a compartilhar a tela durante uma chamada, conseguindo acessar senhas temporárias, PINs e dados sensíveis. O alerta funcionará em dispositivos com Android 11 ou superior e permitirá encerrar a chamada com um toque. Ao contrário da detecção de golpes por voz, esses avisos devem ser exibidos em idiomas indianos no futuro.

O Google vem reforçando o ecossistema de segurança na Índia de outras formas. O Play Protect tem bloqueado aplicativos de empréstimo predatórios, impedindo instalações que pedem permissões sensíveis usadas em fraudes. Segundo a empresa, mais de 115 milhões de tentativas foram bloqueadas este ano. O Google Pay também exibe mais de um milhão de alertas por semana sobre transações suspeitas.

Além das ferramentas técnicas, a companhia investe em educação digital com a campanha DigiKavach, que já alcançou mais de 250 milhões de usuários. Em colaboração com o Banco Central, o Google ajudou a criar uma lista pública de aplicativos de empréstimo autorizados, combatendo apps falsos que se disfarçam de soluções financeiras legítimas.

Mesmo com os avanços, ainda há grandes desafios. Tanto Google quanto Apple são criticados por permitirem a entrada de aplicativos fraudulentos na loja, apesar dos processos de revisão. Pesquisadores e autoridades já identificaram apps de investimento e empréstimo usados em golpes que ficaram disponíveis por tempo demais antes de serem removidos.

O Google lançou neste ano uma Carta de Segurança para a Índia, prometendo ampliar ainda mais o uso de IA para detectar fraudes. A corrida agora é contra a criatividade dos golpistas, que evoluem rápido em um país onde o celular se tornou a porta de entrada para serviços essenciais, mas também para riscos cada vez maiores.