Entregas, fotos e privacidade: o que realmente pode ser registrado na prova de entrega

Quem compra online com frequência já deve ter vivido aquele momento estranho: o entregador pede para tirar uma foto da entrega e, às vezes, parece querer enquadrar você junto. A prática ficou comum com o crescimento do e-commerce, mas trouxe uma dúvida importante sobre privacidade. Afinal, até onde o entregador pode ir ao registrar uma entrega?

Entregador pode tirar foto do cliente?

A resposta curta é não. Fotografar o rosto do consumidor, na maior parte dos casos, não é permitido. As empresas precisam de uma prova de entrega, mas isso não inclui usar a imagem do cliente como parte do processo.

Pela LGPD, a imagem é um dado pessoal. Dependendo do uso, pode até ser considerada dado sensível. A lei exige que a coleta seja proporcional ao objetivo. Se basta registrar o pacote entregue no local correto, incluir o cliente na imagem passa dos limites.

O que as empresas definem como regra

As plataformas ajustaram seus protocolos para equilibrar segurança e privacidade.

Shopee: orienta parceiros a evitar fotos do rosto. A foto deve mostrar o pacote e algum identificador do local, não o cliente.
Amazon: utiliza foto como prova oficial, mas só do pacote na posição onde foi deixado. A ideia é ajudar o cliente a localizar o item, não identificar pessoas.
Loggi: segue o padrão “Foto da Fachada”. O sistema avisa se houver pessoas na imagem e desencoraja totalmente esse tipo de registro.
Mercado Livre: aposta em códigos de liberação. Quando há foto, o foco é no pacote e no local, nunca no cliente.
Jadlog: mantém métodos tradicionais como assinatura e conferência de documento. Foto só aparece em casos específicos.

E se o entregador insistir na foto do rosto?

Você não é obrigado a permitir. Caso o entregador alegue que o aplicativo exige, dá para seguir caminhos simples que validam a entrega sem expor dados pessoais:

Permitir foto apenas do pacote em suas mãos
Deixar o pacote no chão próximo ao número da casa
Assinar digital ou fisicamente, se a empresa oferecer essa opção

A prova de entrega precisa registrar a encomenda, não a sua identidade. Num cenário de golpes envolvendo fotos e reconhecimento facial, preservar o rosto virou uma camada essencial de segurança.