O DeepSeek tornou-se um dos fenômenos tecnológicos mais marcantes do primeiro trimestre de 2025. Afinal, não é todo dia que uma inteligência artificial chinesa rompe barreiras e conquista popularidade global. Mas como a Nvidia, uma das gigantes do setor, enxerga essa ascensão?
Em uma entrevista exclusiva ao TecMundo, Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina, destacou os impactos positivos do DeepSeek e afastou as especulações sobre possíveis ameaças à empresa. A chegada do DeepSeek-R1, modelo de IA desenvolvido pela empresa chinesa, abalou não só a indústria de tecnologia, mas também o mercado financeiro. Um dos pontos centrais dessa discussão envolve os embargos econômicos impostos pelos Estados Unidos e a consequente desvalorização das ações da Nvidia.
DeepSeek Usa GPUs da Nvidia
Aguiar explica que, ao contrário do que muitos especulam, a Nvidia se beneficia da existência do DeepSeek, já que a empresa chinesa utiliza suas placas de vídeo para treinar seus modelos de IA. Embora a Nvidia tenha confirmado discretamente essa informação, o executivo foi direto ao esclarecer que, de fato, o DeepSeek utiliza GPUs da empresa, mas sem revelar quais modelos específicos. “Para nós, o DeepSeek é extremamente estratégico e positivo, porque mostra que eles usam as GPUs da Nvidia, mas só não falam quais modelos. Mas são GPUs que a gente era autorizado a vender, porque o governo dos EUA havia imposto algumas restrições de nós não vendermos as melhores GPUs para a China”, explicou.
Nos últimos anos, os Estados Unidos intensificaram sua política de restrição comercial contra a China, proibindo a exportação de determinadas GPUs de alto desempenho. Como a Nvidia é líder na fabricação de aceleradores de IA, foi diretamente impactada, obrigando empresas chinesas a adquirirem modelos com menor performance ou versões modificadas da própria Nvidia.
O Futuro do DeepSeek e a Expansão da IA
Apesar dessas restrições, a Nvidia mantém um suporte aberto ao DeepSeek, permitindo que desenvolvedores realizem ajustes personalizados na IA, através do fine-tuning. Além disso, tutoriais, arquivos e documentações disponibilizados pela empresa facilitam o acesso a essas tecnologias.
Para Aguiar, a principal mudança trazida pelo DeepSeek é a democratização do desenvolvimento de IA. “Isso traz uma nova visão para aquelas corporações que achavam que, para desenvolver o seu modelo de linguagem, precisariam investir o mesmo que a OpenAI, o que não é verdade”, afirmou. Ele ainda prevê que, ao longo de 2025, novas empresas similares ao DeepSeek surgirão, aproveitando os modelos de IA já disponíveis no mercado.
Mesmo com essa visão otimista, a Nvidia sofreu uma desvalorização de quase R$ 3,5 trilhões em meio ao crescimento do DeepSeek. No entanto, Aguiar atribui essa oscilação mais ao comportamento dos investidores do que a um risco real para a empresa. “O mercado ganha muito dinheiro com as ações oscilando, e não com ações somente crescendo”, pontuou.
Um Novo Cenário para a Indústria de Tecnologia
Além do impacto do DeepSeek, o setor de tecnologia passou por momentos turbulentos no início de 2025, influenciado pela posse do novo presidente dos EUA, Donald Trump, e pelas tensões em conflitos armados. Apesar desses desafios, a Nvidia apresentou um relatório financeiro sólido, projetando uma receita recorde de US$ 43 bilhões (aproximadamente R$ 250 bilhões) para o trimestre, demonstrando que a empresa segue em uma posição de força no mercado global de tecnologia.
