A Apple voltou ao centro de uma polêmica de privacidade. A empresa está sendo processada na França por supostamente usar de forma indevida gravações de voz feitas pela assistente virtual Siri, segundo revelou o Politico nesta segunda-feira (6). A investigação é conduzida pelo Escritório de Combate ao Cibercrime francês e tem relação com um caso iniciado em 2019.
Escuta de usuários e coleta de dados sensíveis
Na época, a Apple foi acusada de contratar funcionários terceirizados para ouvir as interações dos usuários com a Siri — algo que contraria o discurso de privacidade da empresa.
O ex-funcionário Thomas le Bonniec, que trabalhou para a Apple na Irlanda, revelou que escutava milhares de gravações de usuários como parte de um programa para aprimorar as respostas da assistente.
Essas gravações incluíam momentos íntimos, informações sensíveis e até dados que poderiam identificar os usuários. Segundo Bonniec, o objetivo era melhorar o desempenho da Siri, mas o método violava a confiança dos consumidores.
Após a denúncia, a Apple pagou uma indenização e alterou o programa, permitindo que os usuários escolhessem se desejam compartilhar suas conversas com a empresa.
Nova investigação e possíveis crimes cibernéticos
Agora, a seção de crimes cibernéticos do Ministério Público de Paris quer esclarecimentos sobre a prática. Os investigadores pediram à Apple detalhes como:
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Quantas gravações foram realizadas desde 2014;
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Quantos usuários foram afetados;
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E como os dados foram armazenados e processados.
Ainda não se sabe por que o processo foi reaberto anos após o caso original — que já havia sido encerrado nos Estados Unidos.
Apple nega irregularidades
A Apple afirma que nunca utilizou as gravações da Siri para fins de marketing e que não vendeu dados a terceiros.
Um porta-voz da companhia reforçou que todas as revisões de áudio só acontecem com o consentimento do usuário.
Mesmo assim, em dezembro de 2024, a gigante de Cupertino pagou US$ 95 milhões (cerca de R$ 500 milhões) para encerrar o caso nos EUA, sem admitir culpa.
A investigação francesa agora pode se tornar um novo teste para a Apple — especialmente num momento em que privacidade e inteligência artificial estão mais interligadas do que nunca.