FTC mantém proibição a fundador de empresa de stalkerware após casos de vazamento e reincidência

A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos decidiu manter a proibição que impede Scott Zuckerman, fundador da Support King e das marcas SpyFone e OneClickMonitor, de operar qualquer negócio relacionado a vigilância digital. A decisão encerra a tentativa de Zuckerman de reverter a ordem emitida em 2021, depois que a empresa protagonizou um dos vazamentos mais sensíveis envolvendo ferramentas de espionagem para consumidores.

A FTC rejeitou oficialmente o pedido nesta semana, meses após Zuckerman solicitar a revogação ou modificação da proibição. Ele alegava que as exigências de segurança impostas pela decisão original prejudicavam suas outras atividades comerciais, afirmando que atualmente administra apenas um restaurante e planeja novos negócios no setor turístico de Porto Rico. Contatado por e-mail, preferiu não comentar e encaminhou tudo ao advogado.

O banimento inicial surgiu após um vazamento descoberto em 2018, quando um pesquisador encontrou um bucket S3 mal configurado pertencente ao SpyFone. O repositório expunha selfies, mensagens, gravações, contatos, localização e até credenciais criptografadas de dispositivos monitorados. Ao todo, mais de 44 mil endereços de e-mail e dados de mais de 3,6 mil telefones ficaram acessíveis na internet. A FTC concluiu que o software operava de forma clandestina nos aparelhos e que a empresa falhou gravemente em manter qualquer padrão mínimo de segurança.

Mesmo após a proibição de 2021, indícios de reincidência apareceram. Em 2022, um conjunto de dados vazados do app SpyTrac revelou conexões diretas com antigos desenvolvedores da Support King, sugerindo que Zuckerman continuava envolvido no mercado sob outra identidade comercial. Além disso, os dados incluíam registros do próprio SpyFone, que deveriam ter sido apagados, e chaves de acesso ao armazenamento do OneClickMonitor.

Especialistas em cibersegurança classificaram a decisão da FTC como necessária. Eva Galperin, referência global no combate a stalkerware, afirmou que o caso evidencia como alguns operadores tentam apenas esperar o interesse público diminuir. Para ela, a reincidência detectada em 2022 mostra que a lição não foi aprendida.

Ferramentas de stalkerware permitem monitoramento oculto de celulares e outros dispositivos, muitas vezes usados em contextos de abuso e vigilância doméstica. O histórico do setor é problemático: pelo menos 26 empresas do ramo foram hackeadas ou expuseram dados sensíveis nos últimos oito anos. Esses episódios revelam um padrão claro de negligência, onde a privacidade de usuários e vítimas é tratada como um dano colateral.

Esse novo desdobramento reforça a pressão sobre o mercado de stalkerware, que se mantém ativo apesar das ações regulatórias e das frequentes violações de segurança que o cercam. A manutenção da proibição coloca Zuckerman fora do setor de forma definitiva e sinaliza uma postura mais firme das autoridades contra ferramentas de espionagem comercial.